quarta-feira, 5 de maio de 2010

Tipografia- Álvaro de Campos

Composição gráfica


Relatório- Álvaro de Campos


Os versos trabalhados referem-se ao poema Ode Triunfal de Álvaro de Campos. Este heterónimo de Fernando Pessoa é caracterizado como sendo o “filho indisciplinado da sensação” e para ele a sensação é tudo.
Álvaro de Campos aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.
O poema insere-se na 2ª fase da poesia de Álvaro de Campos, Futurista/Sensacionista. Nesta, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. Por este motivo, escolhi colocar na composição tipográfica elementos que remetessem para os caminhos de ferro, o símbolo máximo do modernismo da época. Os “Ó” dos dois primeiros versos foram trabalhados de forma a assemelhar-se às rodas de um comboio, o fumo a sair do “i” procura evocar o vapor que exala da máquina do comboio e os “r” repetidos foram colocados entre os carris em sentido ascendente para reforçar o sentido de repetição dos “r” e continuidade/eternidade do progresso.
Por fim, para sintetizar a mensagem do poema, o entusiasmo ilimitado pelo progresso e modernidade, decidi dar relevo à palavra “fúria”. As letras foram trabalhadas de modo a terem um aspecto moderno e desalinhado. O “F” foi destacado em relação à outras letras, assim como o “ú” que foi feito em tons de vermelho escuro, para reforçar a mensagem de exaltação do poema.
Os traços pontiagudos que saem do “F” e do “i” reforçam a ideia de fúria e histeria progressista.
Por fim, o texto do poema foi escrito a bold e o nome do poeta surge num tipo de letra moderno.